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Estratégias Detalhadas de Prevenção de Perdas em Açougues: Maximização do Rendimento e Melhoria Contínua

ACOUGUES

Por Camila Guimarães,

A atuação do setor de Prevenção de Perdas em açougues é extremamente importante para o sucesso operacional e financeiro

O rendimento dos cortes  de carnes representa a quantidade de carne utilizável, ou seja, que poderão ser comercializadas, após a remoção de gordura, ossos e outras partes não comestíveis. Cada quilo de carne aproveitável impacta diretamente a margem de lucro, tornando fundamental a adoção de práticas que maximizem o rendimento e minimizem o desperdício.

Neste artigo, exploraremos estratégias detalhadas que abrangem desde a seleção da carne até o monitoramento contínuo dos processos, garantindo que cada etapa seja otimizada para resultados superiores.

 

  1. Rendimento dos Cortes: A Chave para Reduzir Desperdícios

O rendimento dos cortes é um indicador crucial para a eficiência de um açougue, o objetivo comercial e operacional é maximizar o percentual de carne aproveitável, o que exige atenção em várias áreas: 

Qualidade da Carne

A qualidade da carne é um fator determinante para o rendimento dos cortes em um açougue. Ela é influenciada por diversos aspectos relacionados ao animal, desde sua genética e alimentação até o manejo durante a criação e o momento do abate. Compreender esses fatores ajuda os açougueiros e gestores a otimizar seus processos e minimizar as perdas, garantindo que o máximo de carne aproveitável seja retirado de cada peça. Abaixo estão os principais pontos que afetam diretamente a qualidade da carne:

 

Maturidade do Animal

A idade do animal no momento do abate tem um impacto significativo na composição da carne. A distinção entre animais jovens e velhos envolve fatores como idade cronológica, grau de desenvolvimento muscular e maturidade óssea.

  1. Animais jovens:

O animal jovem possui menor proporção de ossos e uma musculatura mais desenvolvida, porém ainda tenra. Isso se traduz em um rendimento de corte mais elevado e uma carne de melhor qualidade, sendo mais atraente para os consumidores.

  • Bezerros/Leitões/Cordeiros: São animais abatidos muito jovens, geralmente até seis meses de idade, como bezerros e cordeiros.
  • Novilhos/Novilhas: Bovinos jovens, geralmente com até 2 anos de idade. A carne é mais tenra e suculenta, com uma proporção equilibrada de gordura e músculo. O abate de novilhos é comum para produção de carne de alta qualidade.

 

  1. Animais maduros

Apesar das carnes de animais mais velhos tenderem a ser mais saborosas devido ao acúmulo de gordura intramuscular, o rendimento é geralmente menor. Isso porque há mais colágeno nos tecidos, o que pode endurecer a carne se não for devidamente cozida ou processada, além disso, a presença de mais ossos e gordura torna a preparação mais complexa, exigindo maior habilidade por parte do açougueiro. 

  • Vacas/Búfalas/Porcos/Cabras/Machos castrados mais velhos: São animais que já passaram da fase reprodutiva ou de maior crescimento. A carne tende, geralmente, a ser utilizada para produtos processados ou carne de menor valor no mercado de cortes frescos.
  • Boi ou vaca de descarte: Animais mais velhos, com mais de 3 a 5 anos, que já completaram seu ciclo produtivo. A carne é menos macia e requer processos de cocção mais longos, ou é usada em carne moída ou industrializada.

 

Raça e Genética

A escolha da raça e o aprimoramento genético são elementos cruciais para determinar a qualidade, a eficiência do corte e o rendimento da carne. Cada raça de gado possui características únicas que influenciam fatores como o crescimento muscular, a proporção de carne em relação ao osso, a distribuição de gordura e a maciez da carne. Ao selecionar raças adequadas e adotar estratégias de melhoramento genético, criadores e açougueiros podem maximizar o aproveitamento das carcaças e oferecer carne de melhor qualidade aos consumidores.

Raças:

As diferentes raças de gado foram desenvolvidas ao longo de gerações com características específicas que as tornam mais adequadas para determinados tipos de produção, seja para carne, leite ou trabalho. No caso da produção de carne, algumas raças são particularmente conhecidas por proporcionar cortes de alta qualidade e com maior rendimento. A seguir, exploraremos algumas das principais raças bovinas utilizadas na indústria da carne e suas características:

  •     Angus (Carne Premium com Alto Marmoreio): A raça Angus, originária da Escócia, é amplamente conhecida por produzir carne de altíssima qualidade, com um alto nível de marmoreio (gordura intramuscular). Esse marmoreio contribui para a suculência, maciez e sabor da carne, tornando os cortes de Angus extremamente valorizados no mercado. Além disso, o gado Angus apresenta uma proporção carne/osso muito favorável, resultando em cortes com maior quantidade de carne magra e, consequentemente, maior rendimento para o açougue.
  •     Hereford (Qualidade e Eficiência no Rendimento): O Hereford é uma raça britânica que se destaca pela produção de carne de qualidade. O gado Hereford é famoso pela sua eficiência no ganho de peso e pela capacidade de produzir cortes suculentos, com boa distribuição de gordura. Os animais dessa raça são também conhecidos por sua adaptabilidade a diferentes condições climáticas.
  •     Nelore (Produção em Larga Escala e Adaptação ao Clima Tropical): No Brasil, o Nelore é uma das raças predominantes, principalmente devido à sua adaptação ao clima tropical e à criação extensiva em pasto. Essa raça zebuína, originária da Índia, é altamente resistente ao calor e a doenças, o que facilita o manejo em regiões quentes e úmidas. Embora a carne do Nelore não tenha o mesmo nível de marmoreio que raças europeias, como Angus e Hereford, ela oferece um bom rendimento de carne magra, sendo ideal para a produção em larga escala.

 

Genética:

A genética de um animal é um fator fundamental para determinar não só suas características físicas, como tamanho, proporção de carne e gordura, mas também sua eficiência em transformar músculo em carne. Criadores e pecuaristas utilizam a seleção genética para aprimorar essas características ao longo de gerações, buscando desenvolver animais que ofereçam carne de qualidade superior com o maior rendimento possível.

  • Seleção para Crescimento Rápido e Eficiência Alimentar: Um dos objetivos principais da seleção genética é desenvolver animais que cresçam mais rápido, utilizando menos recursos para ganhar peso, e com maior eficiência alimentar A genética que favorece essa característica resulta em animais que atingem o peso de abate mais cedo, reduzindo os custos de produção e aumentando a lucratividade.
  •     Melhoramento Genético para Marmoreio e Maciez: Outro foco da seleção genética é melhorar a qualidade da carne em termos de marmoreio e maciez. O marmoreio, ou a distribuição de gordura intramuscular, é altamente valorizado pelos consumidores, pois aumenta o sabor e a suculência da carne. A genética de algumas raças, como Angus, é particularmente eficiente em produzir carnes com alto teor de marmoreio.
  • Seleção para Carne Magra e Rendimento de Corte: Comercialmente, os criadores buscam maximizar o rendimento de carne magra, a seleção genética voltada para o desenvolvimento muscular é essencial. Através da seleção de linhagens de gado com uma proporção de carne/gordura favorável, os criadores podem produzir animais que oferecem maior rendimento de carne por carcaça. Isso é especialmente importante para açougues que desejam minimizar o desperdício e aumentar a quantidade de carne vendável.   

 

Alimentação e Manejo:

A alimentação e o manejo dos animais durante sua criação têm um impacto direto e significativo na qualidade da carne produzida, assim como no rendimento dos cortes de carne. Uma nutrição balanceada e práticas de manejo adequadas garantem que os animais se desenvolvam de maneira saudável, proporcionando carne com a distribuição ideal de gordura, textura e sabor desejados pelos consumidores. Além disso, um bom manejo pré-abate pode minimizar perdas e preservar a integridade da carne, maximizando o aproveitamento em todas as etapas do processo produtivo.

 

Alimentação a Pasto:

A alimentação a pasto é uma prática comum, especialmente em regiões tropicais como o Brasil, onde vastas áreas de pastagem estão disponíveis. Os animais criados a pasto têm uma dieta composta principalmente de forragens, como gramíneas, que são ricas em fibras. Essa alimentação resulta em carne com características específicas, carnes mais magras, com menor teor de gordura intramuscular (marmoreio) e extra muscular, isso reduz a maciez  e a suculência da carne, além de um sabor mais intenso.

Esse alimento geralmente tem menor custo, uma vez que os animais se alimentam de forragem disponível naturalmente, sem a necessidade de ração industrializada, entretanto, os animais alimentados exclusivamente a pasto tendem a crescer mais devagar do que aqueles alimentados com grãos, o que pode prolongar o tempo até o abate.

 Alimentação em Confinamento

A alimentação em confinamento é uma prática onde os animais são alimentados com dietas controladas e ricas em grãos, visando acelerar o ganho de peso e melhorar a qualidade da carne, especialmente o marmoreio. Dietas à base de grãos, como milho e soja, são ricas em energia e promovem um crescimento mais rápido dos animais, além de desenvolver uma quantidade maior de gordura intramuscular, que é responsável pela suculência da carne.

Entretanto, essa alimentação é mais cara do que a criação a pasto, o que pode aumentar os custos de produção.

 

Suplementação Nutricional e Aditivos

Independentemente do tipo de criação, a suplementação nutricional é frequentemente usada para melhorar a saúde e o desempenho dos animais. Minerais, vitaminas e proteínas adicionais podem ser fornecidos para garantir que os animais obtenham todos os nutrientes necessários para um crescimento ótimo. Além disso, aditivos alimentares, como probióticos, enzimas e promotores de crescimento, são utilizados para melhorar a eficiência alimentar e aumentar o ganho de peso.

O manejo dos animais durante sua criação, transporte e abate tem um impacto direto na qualidade da carne. Práticas adequadas de manejo garantem que os animais estejam em boas condições de saúde e minimizam o estresse, que pode afetar negativamente a qualidade da carne. O estresse pré-abate, em particular, pode levar à carne de qualidade inferior, com menor retenção de água e maior rigidez (carne DFD – Dark, Firm, Dry). 

 

Bem-Estar Animal e Estresse Pré-Abate

O bem-estar afeta tanto a qualidade da carne quanto a percepção dos consumidores sobre os produtos de origem animal. Animais que são tratados de forma adequada, com acesso a condições saudáveis de vida e manejo, produzem carne de melhor qualidade. O manejo pré-abate é especialmente importante para minimizar o estresse, que pode resultar em alterações negativas na carne.

  • Impacto do Estresse na Qualidade da Carne: Animais que sofrem estresse excessivo antes do abate tendem a produzir carne DFD (Dark, Firm, Dry), que é caracterizada por uma cor mais escura, textura firme e menor capacidade de reter água. Isso resulta em perdas de qualidade e rendimento, além de ser menos atraente para o consumidor.

O estresse pode levar a uma redução na capacidade das proteínas musculares de reter água, o que aumenta a perda de líquidos durante o armazenamento e cozimento. Isso resulta em uma carne menos suculenta e em menor peso final aproveitável.

  • Controle Sanitário e Saúde Animal: Manter os animais em boas condições de saúde é crucial para garantir a qualidade da carne. Práticas sanitárias adequadas, incluindo vacinação, controle de parasitas e monitoramento regular da saúde dos animais, são essenciais para evitar doenças que possam comprometer o crescimento e a qualidade da carne.

 

Condições do Abate

As condições do abate também afetam a qualidade final da carne e, consequentemente, o rendimento no açougue. Métodos adequados de abate, como uma boa sangria, ajudam a reduzir o volume de sangue retido nos tecidos, resultando em um corte mais limpo e em uma carne com melhor peso final.

A sangria é uma das etapas mais críticas no processo de abate de animais e exerce um impacto direto sobre a qualidade final da carne e o seu rendimento no açougue. A remoção eficiente do sangue dos tecidos musculares, realizada por meio de uma sangria correta, influencia a aparência, o sabor, a capacidade de retenção de água e a segurança microbiológica da carne. Quando o processo de sangria não é bem executado, o sangue residual pode comprometer a qualidade da carne das seguintes formas:

  1.     O sangue residual nos músculos atua como um meio nutritivo para bactérias e outros microrganismos, acelerando o processo de deterioração;
  2.   O ferro presente no sangue residual pode oxidar, resultando em um sabor metálico indesejado e menos agradável para o consumidor.
  3.     A carne sem excesso de sangue residual tem uma cor mais vibrante e natural, o que aumenta sua aceitação entre os consumidores, enquanto que carnes com sangue residual se apresentam escuras;
  4.   A prática adequada remove uma quantidade significativa de peso morto (o sangue residual), permitindo que o rendimento real da carne aumente. Com menos líquido a ser drenado ou perdido durante o processamento, o peso final aproveitável da carne aumenta.

 

Técnica de Corte 

A técnica de corte de carnes afeta diretamente o rendimento da carne, a eficiência operacional e a satisfação do cliente.        

A Habilidade do Açougueiro

Um dos fatores mais importantes na técnica de corte é a habilidade do açougueiro. Açougueiros experientes são capazes de realizar cortes precisos, aproveitando ao máximo cada parte da carcaça. A habilidade do profissional influencia não só o rendimento, mas também a qualidade dos cortes finais. Um corte bem feito preserva a textura, a suculência e a aparência da carne, enquanto cortes mal realizados podem resultar em perda de carne e reduzir a atratividade do produto.

Habilidade e Conhecimento Anatômico: A compreensão detalhada da anatomia do animal é essencial para garantir que o corte seja feito da maneira mais eficiente possível. Cada animal possui uma estrutura anatômica específica, com músculos, ossos e camadas de gordura distribuídas de forma única. Açougueiros bem treinados são capazes de identificar as melhores técnicas para separar a carne dos ossos e remover apenas a gordura que for necessária, minimizando as perdas.

Açougueiro conseguem fazer cortes mais eficientes, respeitando as fibras musculares para obter peças de carne que se mantêm intactas e com boa textura. Cortar contra as fibras musculares, por exemplo, pode resultar em carne mais macia e suculenta.

Precisão no Corte:

A precisão no corte é fundamental para maximizar o aproveitamento das peças de carne e garantir que os cortes tenham uma apresentação atraente para os consumidores. Além de aumentar o rendimento, a precisão no corte também afeta a qualidade percebida da carne. Cortes simétricos e bem acabados valorizam o produto e atraem mais clientes.

A precisão no corte garante que a carne seja separada corretamente das partes não comestíveis, como ossos e gordura, sem que haja desperdício de carne. Isso é particularmente importante em peças nobres, onde cada grama de carne é valiosa.

A remoção da gordura externa deve ser feita com cuidado para garantir que apenas o excesso de gordura seja retirado, preservando a quantidade certa de gordura para dar sabor e suculência à carne. A remoção excessiva de gordura pode reduzir o peso final da peça e prejudicar sua qualidade.

 

Ferramentas Adequadas para Cortes Precisos:

A precisão no corte também depende do uso das ferramentas corretas e garantem o maior rendimento das carnes.

  •     Facas de Corte: Facas de desossa afiadas e facas especiais para diferentes cortes de carne ajudam a garantir que a separação da carne seja feita com o mínimo de esforço e perda.
  •     Serra Elétrica: Para cortes de grandes peças com osso, como costelas e ossobuco, o uso de serras elétricas garante cortes uniformes e precisos, preservando a integridade da carne e dos ossos.
  •     Cutelo: Para cortes mais robustos, como dividir grandes pedaços de carne ou ossos, o cutelo é a ferramenta ideal. Sua lâmina pesada e larga permite cortes precisos e rápidos, minimizando o esforço físico.
  •     Afiador de Facas: Manter as facas afiadas é crucial para a eficiência e segurança no corte. O uso regular de um afiador de facas garante que as lâminas permaneçam em ótimo estado, reduzindo o risco de acidentes e melhorando a qualidade dos cortes.
  • Tábua de corte: Uma boa tábua de corte de plástico de alta densidade, é essencial para proteger as lâminas das facas e proporcionar uma superfície estável para o corte. Escolher uma tábua de tamanho adequado ao tipo de corte a ser realizado também contribui para a precisão e segurança.

 

Treinamento Contínuo e Melhoria de Técnicas:

 

Por fim, o treinamento contínuo é essencial para garantir que os açougueiros estejam sempre atualizados com as melhores práticas e técnicas de corte.

 

  • Avaliação de Desempenho e Rendimento: O acompanhamento regular do rendimento dos cortes permite identificar áreas de melhoria nas técnicas de corte. A comparação entre o rendimento esperado e o real ajuda a determinar se os açougueiros estão aproveitando ao máximo cada peça de carne ou se há necessidade de ajustes nas técnicas.

            

  1. Condições de Armazenamento: Preservando a Qualidade e o Peso da Carne

O armazenamento adequado da carne é uma das etapas mais críticas na cadeia produtiva de um açougue. As condições de temperatura, umidade e ventilação influenciam diretamente a preservação da qualidade, a segurança alimentar e o peso final da carne. Um armazenamento ineficaz pode resultar em perda de peso, deterioração e até contaminação, afetando negativamente o rendimento no açougue e a satisfação dos clientes. Para garantir que a carne mantenha suas características ideais, é essencial controlar rigorosamente essas variáveis durante todo o processo de armazenamento.

Controle de Temperatura:

A temperatura é o principal fator que determina a longevidade e a qualidade da carne durante o armazenamento. Manter a carne em temperaturas corretas, tanto no armazenamento refrigerado quanto no congelamento, é crucial para evitar a proliferação de microrganismos, que podem acelerar o processo de deterioração e comprometer a segurança alimentar. Além disso, as baixas temperaturas preservam as características sensoriais (sabor, odor e textura) e minimizam a oxidação.

Armazenamento refrigerado: A carne fresca deve ser armazenada em temperaturas refrigeradas, normalmente entre 0°C e 4°C, para inibir o crescimento de bactérias e retardar a deterioração. Se a temperatura ultrapassar essa faixa, há um aumento exponencial na multiplicação de microrganismos, o que pode resultar em perdas significativas de qualidade e segurança.

Perda de Umidade: Mesmo em baixas temperaturas, a carne pode perder umidade ao longo do tempo, o que afeta diretamente o peso final e a suculência da carne. Isso pode ser minimizado mantendo uma umidade relativa adequada na câmara de armazenamento.

Flutuações de Temperatura: Alterações frequentes de temperatura podem causar a formação de cristais de gelo na superfície da carne, comprometendo sua textura e sabor. Além disso, variações bruscas podem aumentar a produção de soro (fluido que sai da carne), reduzindo o peso aproveitável.

Vida útil prolongada: A manutenção da temperatura estável dentro da faixa recomendada, permite que a carne seja armazenada por mais tempo sem comprometer suas qualidades sensoriais, permitindo um gerenciamento de estoque mais eficiente e menos desperdícios.

 

Congelamento:

O congelamento é a melhor opção para armazenamento de longa duração. A carne deve ser armazenada em temperaturas abaixo de -18°C para garantir que a atividade microbiana seja interrompida e que a carne permaneça segura para o consumo por períodos mais longos. O congelamento adequado pode preservar a carne por meses, sem comprometer significativamente a qualidade.

 

  • Congelamento Rápido: O congelamento rápido é ideal, pois evita a formação de grandes cristais de gelo dentro das células musculares. Quando o congelamento é lento, cristais maiores se formam, rompendo as paredes celulares e resultando em uma textura mais seca e menos suculenta após o descongelamento.
  • Descongelamento Adequado: O descongelamento deve ser feito de maneira controlada, geralmente dentro de uma câmara de resfriados, para evitar que a carne atinja temperaturas favoráveis ao crescimento bacteriano. Descongelar à temperatura ambiente aumenta o risco de proliferação microbiana e contaminação.
  • Queima pelo Frio: A carne mal embalada pode sofrer queimadura pelo frio. Isso ocorre quando a carne é exposta ao ar frio, resultando em desidratação da superfície e textura áspera. A embalagem adequada e a vedação hermética são essenciais para evitar esse problema, preservando a qualidade e o peso da carne.

 

Umidade Relativa:

A umidade relativa no ambiente de armazenamento também desempenha um papel importante na preservação da carne. Quando a umidade está muito baixa, a carne tende a perder água, resultando em perda de peso e carne seca. Por outro lado, uma umidade excessivamente alta pode criar um ambiente propício para o crescimento de fungos e outros microrganismos.

  • Evitando a Desidratação da Carne: Quando a carne perde muita umidade durante o armazenamento, o peso final da peça é significativamente reduzido, o que impacta o rendimento no açougue. A perda de água afeta não só o peso, mas também a textura e a suculência da carne, tornando-a menos atrativa para o consumidor.

Para evitar tanto a desidratação a umidade relativa no armazenamento deve ser mantida entre 85% e 90%. Isso garante que a carne retenha sua umidade natural, mantendo sua qualidade sem criar um ambiente propício para o crescimento de fungos ou bactérias. 

  • Prevenção de Condensação e Fungos: A umidade muito alta no ambiente de armazenamento pode causar condensação nas superfícies da carne, resultando em crescimento de mofo e outras contaminações. Além disso, o excesso de umidade pode acelerar a deterioração da carne e criar condições ideais para o crescimento bacteriano.

Ambientes com alta umidade e temperaturas inadequadas podem provocar o aparecimento de mofo nas superfícies da carne. Isso compromete não só o rendimento, mas também a segurança alimentar.

Ventilação e Acondicionamento: A ventilação adequada e o acondicionamento correto são outros dois aspectos essenciais para garantir que a carne seja armazenada de forma eficiente. A circulação de ar frio dentro das câmaras frigoríficas é crucial para manter uma temperatura uniforme em toda a carne e evitar pontos quentes que possam comprometer a qualidade.

 

  • Circulação de Ar Frio: A circulação de ar adequada dentro das câmaras frigoríficas permite uma distribuição uniforme da temperatura, garantindo que toda a carne seja mantida na mesma condição ideal, entretanto, a falta de ventilação pode causar a formação de áreas com temperatura inadequada, o que pode levar à deterioração da carne, devido ao crescimento de microrganismos.

Embalagem Adequada:

O acondicionamento da carne também desempenha um papel fundamental no armazenamento.

  • Embalagem a Vácuo: A remoção de oxigênio das embalagens ajuda a evitar o crescimento de bactérias aeróbias, que precisam de oxigênio para se multiplicar. Além disso, essa técnica reduz a perda de umidade, preserva a frescura da carne por mais tempo  e retarda a oxidação.
  • Filmes Plásticos e Selagem: O uso de filmes plásticos resistentes e a vedação hermética garantem a manutenção do vácuo e todos os benefícios desse tipo de embalagem.

Excesso de soro em embalagens à vácuo pode indicar variação na temperatura de armazenamento da carne, consequente, crescimento  de microrganismos anaeróbicos, que produzem ácido acidificando o produto e reduzindo a capacidades de retenção de água, comprometendo o rendimento dos cortes de carne.

 

Monitoramento e Controle: Garantindo a Eficiência Operacional

O monitoramento e controle são componentes essenciais para garantir a eficiência operacional em um açougue, especialmente em relação à prevenção de perdas. Para otimizar o rendimento, manter a qualidade da carne e minimizar desperdícios, é necessário implementar sistemas rigorosos que acompanhem todas as etapas do processo, desde o recebimento da carne até a venda final. O controle eficaz dos indicadores de desempenho, estoque e técnicas de corte proporciona dados cruciais para ajustes e melhorias contínuas nas operações diárias.

 

 Monitoramento de Rendimento dos Cortes

O rendimento dos cortes é um dos indicadores mais importantes para determinar a eficiência de um açougue. Ele mede a quantidade de carne aproveitável em relação ao peso bruto da peça original. Acompanhar o rendimento dos cortes regularmente ajuda a identificar possíveis problemas no processo, como desperdícios excessivos durante a desossa ou cortes imprecisos que resultam em perda de carne. O monitoramento constante permite uma avaliação clara do desempenho da equipe e da qualidade da carne.

Rendimento Esperado x  Rendimento Real: Uma prática essencial no controle de rendimento é a comparação entre o rendimento esperado e o rendimento real de cada corte. O rendimento esperado é baseado em padrões estabelecidos para cada tipo de carne, que consideram o peso bruto da peça e a quantidade de carne que deve ser aproveitada após o corte e a desossa. Qualquer discrepância significativa entre esses dois valores pode indicar problemas operacionais que precisam ser corrigidos.

Rendimento Esperado: Determina o percentual de carne que deve ser aproveitável em condições normais, com base em fatores como tipo de corte, raça do animal e técnica de desossa.

Rendimento Real: O rendimento real obtido em cada operação é registrado e comparado ao padrão esperado. Se o rendimento real for consistentemente inferior ao esperado, isso indica a necessidade de ajustes, seja no treinamento da equipe, seja na escolha da carne ou na técnica de corte.

Identificação de Problemas Operacionais: O monitoramento regular dos rendimentos ajuda a identificar problemas específicos que afetam o desempenho. Isso inclui tanto falhas nas técnicas de corte quanto questões relacionadas à qualidade da carne recebida.

  • Problemas no Corte: Açougueiros que ainda não dominam completamente as técnicas de corte podem estar deixando uma quantidade excessiva de carne nas aparas ou ossos, o que reduz o rendimento geral. O acompanhamento de rendimentos por açougueiro permite identificar quem precisa de treinamento adicional.

 

  • Qualidade da Carne: Caso o rendimento de cortes esteja abaixo do esperado de maneira recorrente, pode ser necessário avaliar a qualidade da carne recebida dos fornecedores. Carne com mais gordura ou ossos do que o previsto pode comprometer o rendimento.

 

 

Implementação de Indicadores de Desempenho (KPIs)

 

Os KPIs (Key Performance Indicators) são ferramentas fundamentais para monitorar o desempenho do açougue e identificar áreas de melhoria. Os KPIs mais comuns incluem:

  • Rendimento Médio por Tipo de Corte: Mede o percentual de carne aproveitável em relação ao peso bruto. Esse indicador permite avaliar a eficiência das técnicas de corte.
  • Diferença entre Rendimento Real e Esperado: Indica o desvio entre o rendimento obtido e o padrão estabelecido, ajudando a identificar problemas específicos com lotes de carne ou a técnica de desossa.
  • Tempo Médio de Armazenamento: Acompanha quanto tempo a carne fica armazenada antes de ser vendida, permitindo otimizar o fluxo de estoque e evitar perdas por deterioração.
  • Monitoramento da Temperatura nas Câmaras e Balcões Frigoríficos: O monitoramento da temperatura durante o armazenamento deve ser constante para garantir que a carne esteja sendo mantida nas condições ideais.
  • Umidade Controlada: A umidade ideal nas câmaras frigoríficas deve ser entre 85% e 90% para evitar a desidratação da carne, que resultaria em perda de peso e qualidade. 

 

Auditorias de Técnica de Corte:

As auditorias de técnica de corte são essenciais para assegurar que os açougueiros estejam aplicando corretamente os métodos de desossa e separação da carne. A precisão no corte e a habilidade técnica dos açougueiros têm um impacto direto no rendimento e na qualidade do produto final.

Auditorias regulares ajudam a identificar erros, avaliar a consistência das técnicas e, quando necessário, proporcionar treinamento adicional à equipe.

  • Observação e Avaliação do Desempenho dos Açougueiros: As auditorias devem incluir a observação direta dos açougueiros durante o processo de corte. Isso permite identificar falhas ou ineficiências no processo que possam estar contribuindo para a perda de carne ou baixa qualidade dos cortes.
  • Eficiência na Desossa: Técnicas inadequadas podem deixar carne nos ossos ou resultar em pedaços mal formados, que reduzem a qualidade visual e o rendimento. Açougueiros com maior habilidade técnica conseguem fazer desossas limpas e maximizar a carne aproveitável.
  •     Precisão nos cortes: Avaliar a precisão dos cortes é igualmente importante. Cortes mal realizados podem resultar em perda de carne ou peças mal acabadas, que não atraem os consumidores.

 

Treinamento Contínuo e Capacitação

Com base nos resultados das auditorias, é possível oferecer treinamento adicional para os açougueiros. Treinamentos regulares são fundamentais para garantir que a equipe esteja sempre atualizada com as melhores práticas, novas técnicas e o uso adequado de ferramentas.

 

  1. Implementação de Um Ciclo Contínuo de Melhoria: Otimizando o Desempenho do Açougue 

A implementação de um ciclo contínuo de melhoria é uma estratégia fundamental para garantir a eficiência e o aprimoramento constante das operações no açougue. Este ciclo envolve a identificação de problemas, aplicação de correções, treinamento contínuo da equipe e monitoramento regular de indicadores de desempenho (KPIs), com o objetivo de melhorar o rendimento, a qualidade dos cortes e a gestão de estoques. A natureza cíclica desse processo permite que o açougue se adapte rapidamente a mudanças e desafios, ao mesmo tempo em que promove uma cultura de melhoria constante e redução de perdas.

 

A Importância do Ciclo Contínuo de Melhoria

O ciclo contínuo de melhoria é uma abordagem baseada em quatro fases principais: planejamento, execução, verificação e ação (PDCA). Esse método garante que todas as operações do açougue, desde o recebimento dos cortes de carnes até a venda final, sejam constantemente revisadas e otimizadas, resultando em processos mais eficientes, menor desperdício de carne e maior lucratividade.

  • Planejamento (Plan): Nesta fase, são definidos os objetivos e metas de melhoria. O planejamento envolve identificar áreas de problema, como cortes ineficientes ou perdas excessivas, e estabelecer metas claras para melhorar esses aspectos.
  • Execução (Do): Após o planejamento, as ações corretivas ou ajustes são implementados. Isso pode envolver mudanças nas técnicas de corte, no treinamento da equipe ou no gerenciamento de estoque.
  • Verificação (Check): Nesta fase, os resultados das ações implementadas são monitorados e comparados com os objetivos estabelecidos. Se os resultados não forem satisfatórios, novos ajustes serão feitos.
  • Ação (Act): A última etapa do ciclo envolve padronizar as mudanças que trouxeram melhorias significativas, garantindo que elas sejam incorporadas à rotina do açougue. O processo, então, recomeça com a busca de novas áreas de melhoria.

Etapas Práticas para Implementar o Ciclo de Melhoria no Açougue:

Para que o ciclo de melhoria seja eficaz, ele deve ser implementado de maneira estruturada e integrada às operações diárias do açougue. Cada etapa do processo exige um foco específico para garantir que as mudanças sejam sustentáveis e levem a ganhos reais em termos de rendimento, qualidade e eficiência.

  • Identificação de Áreas para Melhoria: A primeira etapa do ciclo é identificar áreas em que as operações podem ser otimizadas. Isso pode incluir questões relacionadas ao recebimento, ao corte, à desossa, ao armazenamento, ou até mesmo ao treinamento da equipe. A identificação dessas áreas é feita com base na análise de dados operacionais, feedback dos colaboradores e auditorias internas.

Auditorias de Rendimento: Uma prática comum para identificar áreas de melhoria é realizar auditorias regulares de rendimento. Comparar o rendimento real com o esperado em diferentes lotes e peças permite identificar onde estão ocorrendo perdas e como elas podem ser reduzidas.

Feedback da Equipe: Os próprios açougueiros e gerentes de loja podem fornecer feedback sobre as dificuldades enfrentadas no dia a dia. Problemas como ferramentas inadequadas, falta de treinamento ou processos ineficazes podem ser levantados e abordados.

Definição de Padrões de Corte e Desossa

 Uma vez identificadas as áreas problemáticas, o próximo passo é estabelecer padrões de corte e desossa que maximizem o aproveitamento da carne e minimizar desperdícios. Definir padrões claros ajuda a garantir que todos os açougueiros estejam aplicando técnicas consistentes e otimizadas.

Estabelecimento de Padrões de Qualidade: Definir o peso ideal dos cortes, a proporção de carne magra em relação à gordura e o percentual de carne aproveitável de cada peça ajuda a alinhar as expectativas da equipe com os objetivos operacionais. Padrões claros facilitam a comparação entre o rendimento real e o esperado.

Documentação de Procedimentos: Para garantir que os padrões sejam seguidos consistentemente, os procedimentos devem ser documentados e acessíveis a toda a equipe. Isso inclui instruções detalhadas sobre técnicas de desossa, cortes e armazenamento.

 

Coleta de Dados e Monitoramento Contínuo

Uma parte essencial do ciclo de melhoria é a coleta e análise contínua de dados sobre as operações. Esses dados fornecem uma base objetiva para avaliar o sucesso das mudanças implementadas e identificar novas oportunidades de melhoria.

  • Medição de Rendimento: O peso de cada peça de carne antes e após o corte deve ser registrado e comparado ao padrão esperado. Isso ajuda a monitorar a eficiência dos cortes e a identificar onde ocorrem perdas excessivas.
  • Controle de Perdas: Além de medir o rendimento, o açougue deve registrar todas as perdas, sejam elas causadas por deterioração, erros de corte ou outros fatores. Essas informações são essenciais para identificar padrões de desperdício que possam ser corrigidos.

 

Implementação de Ações Corretivas

Com base nos dados coletados, a próxima etapa do ciclo envolve a implementação de ações corretivas para resolver os problemas identificados. Isso pode incluir ajustes nas técnicas de corte, revisão dos procedimentos de armazenamento ou mudanças na seleção de fornecedores.

  •   Revisão das Técnicas de Corte: Se as perdas forem causadas por cortes ineficazes ou imprecisos, a equipe de açougueiros deve ser treinada novamente para melhorar suas habilidades. Técnicas mais precisas de desossa e separação da carne podem resultar em um aumento significativo do rendimento.
  •   Ajustes no Armazenamento: Problemas com a qualidade da carne armazenada, como perda de peso por desidratação ou deterioração, podem ser resolvidos com ajustes nas condições de armazenamento, como temperatura e umidade, ou com o uso de novas embalagens que preservam melhor a carne.

 

  1.       Conclusão:

A prevenção de perdas em açougues é uma prática complexa, que demanda um entendimento profundo de cada etapa do processo, desde a seleção e armazenamento da carne até a técnica de corte e monitoramento de rendimento. Ao implementar as estratégias adequadas e realizar um acompanhamento rigoroso dos indicadores de desempenho, é possível não apenas reduzir desperdícios, mas também otimizar a qualidade dos produtos, melhorar a eficiência operacional e aumentar a lucratividade.

A chave para o sucesso está na integração de boas práticas em cada detalhe da operação, incluindo o treinamento contínuo da equipe e o uso adequado de ferramentas. Além disso, a criação de um ciclo contínuo de melhoria garante que o açougue possa se adaptar rapidamente às mudanças e identificar oportunidades para maximizar o rendimento. Dessa forma, a qualidade da carne, a satisfação do cliente e o retorno financeiro são significativamente aprimorados.

Implementar essas medidas de forma consistente permite que o açougue se destaque em um mercado competitivo, oferecendo produtos de alta qualidade e minimizando as perdas ao longo de toda a cadeia produtiva.

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